Líderes míopes, empresas em perigo

A importância do olhar ambidestro para o futuro das organizações.

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Existem diversos cases de mercado que exemplificam o perigo que a zona de conforto pode significar para as empresas. Provavelmente você conhece as histórias das gigantes abaixo:

  • Nos anos 1970, a Kodak dominava o mercado da fotografia analógica mundial, vendendo 80% das câmeras e 90% dos filmes fotográficos. Voltado para a inovação, em 1975 o engenheiro Steven Sasson, da própria Kodak, inventou a câmera digital. O protótipo foi deixado de lado pelos executivos porque o produto poderia canibalizar o mercado de filmes – o que realmente aconteceu, mas pelas mãos de outras empresas, resultando na falência da companhia em 2012.
  • A Blockbuster também foi vítima da inovação - ou da falta dela. Referência em aluguel de filmes e jogos de videogame nos anos 1990, ignorou o surgimento dos serviços de streaming e sua significativa adesão pelo público. O desdém foi tanto que a Blockbuster descartou a compra da Netflix para focar em outro objetivo: ser uma grande varejista. Com a perda de clientes, faliu em 2013. Já a Netflix ainda mantém seu negócio original de entrega de DVDs por assinatura via correio, nos EUA - serviço que será encerrado no dia 29 de setembro.
  • Recentemente, a Tupperware informou que há “dúvidas substanciais sobre a capacidade da empresa de continuar operando”. Apesar dos seus 77 anos de história, a fabricante de potes plásticos (que tem o nome como sinônimo dessa categoria de produtos) não se adaptou às mudanças do mercado, deixando de diversificar as linhas, a forma de venda e, muito menos, enfrentar a crescente concorrência, principalmente dos semelhantes chineses.

Apesar de operarem em segmentos distintos e possuírem suas próprias particularidades, essas grandes empresas têm em comum um certo grau de miopia sobre seus negócios. Essa é uma condição relativamente comum, que limita a ação dos profissionais contra problemas do hoje, sem clareza ou mentalidade inovadora para investir no amanhã.

Essas lideranças não desenvolveram a ambidestria como competência, ou seja, não conseguiram equilibrar a gestão do negócio atual com a inovação necessária para se manterem competitivas no futuro. As empresas ficaram em uma zona confortável com o que já conheciam e não perceberam a necessidade de mudança até que fosse tarde demais.

A transformação digital é um exemplo recente disso, e se tornou uma demanda indispensável para as empresas que querem sobreviver. Se você não inovar, o seu concorrente certamente o fará. Neste sentido, é preciso compreender a importância da ambidestria empresarial para se adaptar ao mercado em constante mudança e manter-se relevante - independentemente do seu tamanho ou ramo de atuação.

Duas habilidades que se complementam

Pensando sobre o impacto da transformação digital nos negócios e na forma como as lideranças precisam olhar para eles, João Salibi Neto, cofundador da HSM, destaca que as possibilidades trazidas pela tecnologia exigem que as empresas enxerguem a partir do ecossistema, não apenas do seu negócio.

Ele cita a própria Kodak, que não levou adiante o projeto da fotografia digital por manter o foco na impressão de fotos e não no ecossistema de telas, onde a qualidade de resolução era melhor e se tornava mais popular. Ou seja, aquilo que hoje diferencia e destaca um negócio pode não existir mais amanhã, ou não fazer sentido para o consumidor.

É aqui que entra nosso exemplo mais recente: a Tupperware. Fundada em 1946, ela já teve centenas de revendedoras, mas esqueceu de olhar para os canais digitais e até mesmo para o varejo físico, começando a vender na Target apenas recentemente. Ao mesmo tempo, ignorou os consumidores que surgiam: alguns insatisfeitos com o impacto ambiental do plástico, outros, valorizando preços baixos.

A ambidestria, vale explicar, não é um conceito exclusivo da gestão, como destaca uma reportagem da HSM, a palavra deriva do latim “ambi” (ambos) e “dext” (certo) e traduz “a capacidade de ser igualmente habilidoso com ambas as partes do corpo”. Adaptado para os negócios, ser ambidestro é exatamente isso: executar com excelência as atividades do dia a dia, gerenciar os recursos e garantir resultados positivos no curto prazo, enquanto também investe em novas ideias, tecnologias e modelos de negócio que ajudarão na adaptação das mudanças de mercado e na antecipação das demandas dos clientes.

A ambidestria inspira ecossistemas

As lideranças da empresa Melhoramentos não se contentaram com o conforto. A fábrica de papel fundada em 1890 incorporou novos negócios conforme crescia, acompanhando as mudanças do mercado para a criação de seu ecossistema. Primeiro integrou uma gráfica e uma editora; depois, investiu no plantio de florestas usadas como matéria-prima do seu produto; por fim, ingressou no segmento de empreendimentos imobiliários.

A fábrica que deu início ao negócio foi vendida em 2009, as demais atividades seguem operando em paralelo a um investimento na produção de fibras de alto rendimento, que são vendidas para terceiros. Em entrevista ao Projeto Draft, Carolina Alcoforado, COO da Melhoramentos, conta que hoje a companhia busca formas de diversificar o portfólio e atualizar suas três unidades de negócios (Editora, Florestal e Patrimonial), focando em um impacto positivo ao mesmo tempo que atende as necessidades da empresa. Essa postura ambidestra torna a Melhoramentos mais preparada para os desafios e oportunidades, garantindo sua sobrevivência e crescimento a longo prazo.

Speaker no South Summit Brazil, realizado em Porto Alegre no início de abril, o empresário Jorge Gerdau reforçou a necessidade das empresas fazerem o dia a dia com excelência, gerando caixa para inovações, defendendo a ideia de que não se produz caixa para guardar, e sim para investir em projetos que possam colaborar com o próprio crescimento.

Da fábrica de pregos ao uso de dados

A Gerdau, "fábrica de pregos" de Porto Alegre que foi liderada por Jorge Gerdau, é um mais um excelente case de ambidestria. A multinacional chega aos 122 anos operando em 10 países e investindo na transformação digital e cultural. Gustavo França, Diretor Global de Digital e TI da Gerdau, contou ao Projeto Draft que desde 2014 está clara para as lideranças a necessidade de mudar o jeito de trabalhar, pois "não teríamos resultados diferentes frente a um cenário de maior globalização e competição se continuássemos fazendo as coisas do mesmo jeito".

Foi aí que, junto do processo de atualização da cultura, o uso da inovação foi intensificado: juntos, os dois movimentos modernizaram a multinacional. Desde então, processos foram automatizados com inteligências artificiais e otimizados pelo uso de dados. A diversificação do portfólio veio através do Gerdau Next, projeto lançado em 2020, focado na criação e incorporação de novas empresas em segmentos estratégicos.

Um profissional qualificado nunca para de aprender

Empresas e profissionais precisam olhar com atenção para o desenvolvimento e capacitação de seus funcionários, especialmente em relação às core skills. A necessidade de aprender nunca esteve tão em alta e, como frisa Paulo Lira, gestor acadêmico da HSM University, essa educação é fundamental para o desenvolvimento dos profissionais e aqueles que investirem em qualificação de qualidade terão mais propriedade para lidar com a complexidade empresarial.

"O importante é reforçar uma mentalidade aberta ao conhecimento, entregando-se ao lifelong learning como a um estilo de vida e de crescimento. E mais: os resultados dessa postura são perenes e exponenciais. [...] Para além dos diplomas mais tradicionais, é preciso entender que não há – e nem deve haver – um fim para o processo de aprendizado. Pelo contrário: a jornada é longa e ininterrupta, mas reserva muitas recompensas”.

O programa Liderar para Transformar desenvolve competências essenciais para a liderança, como a ambidestria. Através da conexão com os reais desafios do dia a dia do líder, profissionais entendem a necessidade de entregar os resultados do hoje sem perder de vista o futuro do negócio.

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